Em 1996 surge a apetência de descobrir e pintar imagens (símbolos) dos arquétipos, que fizessem parte do nosso imaginário (inconsciente) colectivo, como advogava Jung.
Surge assim o arquétipo tornado imagem, em certos casos imagens impregnadas de significado intrínseco, e tornadas poderosas pela continuada devoção e adoração ao longo de tempos remotos.
Estas imagens tradicionais estão vivas, operacionais e perpetuamente eficazes, sempre que a nossa atenção e intuição as despertem do sono letárgico em que se encontram no nosso inconsciente.
“....esquecer o que está e recordar a novidade que aí vem”, dizia Almada a propósito da memória criativa e do uso a dar a essa mesma memória.
As imagens são grafismos estéreis se estiverem deslocadas do contexto em que foram criadas e onde foram crescendo em importância e significado até se tornarem símbolos tradicionais que representam simultaneamente a realidade natural e sobrenatural, e servem como catalizadores dessas realidades quando são estimulados pela nossa atenção ou devoção.
A procura do cenário onde o símbolo se movimentava ou foi criado, como se de uma sintonia se tratasse, conduziu ao desenvolvimento de uma abordagem Zen ao acto de pintar.
Tem que se “estar lá” para sentir, tem que se “estar lá” para se conseguir recordar a novidade que queremos pintar. “Estar lá” é sintonizar o momento efémero em que o símbolo foi criado e tentar transmitir essa emoção para a tela, possibilitando a manifestação do símbolo enquanto arquétipo de uma realidade não visível mas intuída.
Ao usarmos o inconsciente como canal privilegiado de uma leitura dos nossos mitos mais profundos, abrimos a porta à intuição e ao sonho lúcido como forma de concepção artística particular, tornando cada quadro numa experiência fascinante de descoberta dum tempo que já foi importante para o homem e que volta a ser animado como imagem de poder que é.
Imagem de poder porque não ficamos indiferentes ao vê-la. Gosta-se ou não se gosta! Sentimo-nos bem ou sentimo-nos mal! Ao reagirmos sentimos o seu poder pessoal, já não nos pertencem, já têm vida própria e são aquilo que sempre foram, uma forma inteligível de intuir o desconhecido, um meio para abarcarmos o intangível, nem que seja por uma breve e fugaz fracção do tempo.
O esquecimento de nós próprios no acto de pintar é a chave para a regressão ao tempo e ao lugar onde o símbolo se manifestou e se tornou propriedade de todos nós. A exaltação, o medo, a agressividade, a violência e tantas outras manifestações da nossa psique estão presentes conforme os cenários que o inconsciente nos apresenta. O gesto de pintar tenta traduzir esse estado de espírito particular. A experiência fica gravada a fogo no mais íntimo de nós mesmos.
No fundo é um olhar longe para aquilo que já fomos, para aquilo que ainda somos e talvez para aquilo que algum dia será.
O percurso de apresentação das pinturas baseia-se numa linha que começa no homem antigo imerso no caos total (“O Pássaro e a Serpente” é o símbolo mais antigo), tende para a auto organização em sistemas abertos desenvolvidos de baixo para cima, a partir do feedback entre elementos individuais em interacção (“ O Dragão” como poder criativo da natureza), e de novo emerge para a diversidade e para o caos regenerador e libertador (“Caos, I Ching e o Código Genético” como manifestações da mesma realidade, Hórus e o Caos e Coatl- as serpentes entrelaçadas).
No entanto as imagens agora apresentadas não foram objecto de uma escolha premeditada, nem obedeceram a qualquer plano prévio de apresentação, tendo sido elaboradas aleatoriamente e sem qualquer ordem predefinida, seguindo apenas a intuição criativa.
Uma vez mais o Caos tende para a auto organização...
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