novembro 28, 2006

JORGE LOPES NA MARTINICA


Jorge Lopes já se encontra na Martinica. Chegou no Sábado e só ontem é que o telemóvel voltou a funcionar (humidades relativas pesadas...), daí o atraso no contacto. Os ventos não foram muito fortes e correu tudo bem! A foto já tem uns anos, mas imaginamos como deve ter sido o momento da chegada...Parabéns Jorge!!!

novembro 24, 2006

MEMÓRIA DE ACIDENTE


O surf e a queda livre eram o escape. O surf fazia com o meu filho João desde que ele tinha seis anos, a queda livre apareceu depois e foi o complemento radical. Cinquenta segundos em queda livre até abrir o pára-quedas limpavam uma semana amorfa e chata, alegrada pelas surfadas à hora de almoço quando havia ondas. Normalmente começava o dia pelas seis da manhã em direcção ao Guincho ou à Costa da Caparica ou então à Praia Grande para a surfada matinal antes de ir para o atelier. Era a maneira de capitalizar energia para aguentar a rotina. Pintava à noite junto à lareira a ouvir aquele jazz que nós gostávamos na altura. Parecia perfeito, mas faltava alguma coisa.

Tu desapareceste lá para as bandas de Tomar e o Inverno passou e a Primavera chegou. Os dias em Évora começavam cedo no aeródromo, eram os tempos dos aviões a hélice sem GPS, e cada salto demorava quase uma hora para chegar à altitude de 10.000 pés. O tempo passava devagar e as horas passavam entre um salto e o seguinte. Num bom dia de saltos conseguia fazer dois ou três.

Por acaso ou não, foi o primeiro fim-de-semana que fui sozinho para Évora saltar. Levei a tenda de campismo e armei-a junto ao monte fronteiro ao hangar. A pista ainda tinha réstias de névoa matinal, como farrapos de algodão espalhados pelo alcatrão.

As portas do hangar ainda estavam fechadas e o silêncio entranhava-se na pele juntamente com o frio húmido que caía do céu.

Ao longe, começou a ser perceptível o som dum motor de avião. Era o meu instrutor e amigo, o Amaral, que vinha com o piloto e o avião do clube que tinha estado em Tires para a revisão de rotina. Passaram à vertical do aeródromo e vi um ponto preto a afastar-se do avião. Só podia ser o Amaral a aproveitar um salto de borla. Na queda livre o que se paga é a subida do avião, ou como diz o ditado, a descer todos os santos ajudam...

O avião ao aterrar como que atraiu a actividade adormecida e num ápice o aeródromo animou-se de gente e afazeres com as preparações dos pára-quedas para os saltos antevistos durante a semana de espera.

Quando abri a porta do avião e saí lá para fora, olhei de relance para os cinco graus negativos do termómetro e não tive tempo de tremer. Era o tempo de gritar, Corta e Ready Set Go para os meus companheiros de salto. E a paz, o vento e a velocidade nas bochechas apoderavam-se de nós enquanto nos aproximávamos uns dos outros com pequenos movimentos de braços e pernas. Estávamos a voar em relativo, voávamos a cair à mesma velocidade. Éramos Deuses e tínhamos consciência disso.

Mas mesmo os Deuses obedecem ao Caos e por vezes são arrastados no turbilhão caótico da causa efeito, tal como os humanos.

E no último salto do dia, quando já ia a caminho do monte para descansar, chamam-me para completar o grupo que tinha chegado de Lisboa e ainda pretendia fazer um salto. Voltei atrás e fui equipar-me. O avião só subia com a tripulação completa, o piloto mais quatro pára-quedistas. Eu era o quarto. Era o mensageiro do Caos.

O salto correu relativamente bem, o que quer dizer que fizemos metade das figuras que tínhamos planeado em terra. Os quatro mil pés aproximaram-se enquanto leva a dizer quarenta vezes Kodakum, o bip no capacete começou a tocar e num instante o mostrador do altímetro de pulso marcava três mil e quinhentos pés, altura da separação, rotação lateral estável, piloto do pára-quedas lançado e a surpresa feita dor lancinante até à náusea.

Encontrava-me suspenso no ar, com o pára-quedas aberto, estável e travado a três mil pés de altitude. Encontrava-me igualmente suspenso na dor e no medo de olhar para o meu braço direito e não o ver lá. Parecia que mo tinham arrancado.

Com o braço esquerdo, apalpei-o e cada toque era um tormento. Dominei o vómito, a náusea de pânico e a custo poisei o braço em cima da perna direita dobrada, enquanto com a mão esquerda destravava o pára-quedas para o manobrar até à zona de aterragem.

A adrenalina manteve-me desperto e consegui aterrar não muito longe do círculo que assinalava o ponto certo de aterragem. A maneira como estava a fazer as manobras de aterragem, só com uma mão, devem ter chamado a atenção de quem se encontrava na pista de que algo de errado se estava a passar comigo, porque no momento após ter aterrado de rojo na erva e deslizava rapidamente para um estado de choque ligeiramente consciente, ainda me apercebi de pessoas a correr e a gritar na minha direcção.

Acho que ainda consegui dizer que não sentia o braço direito e que estava partido, mas não tenho a certeza. Os sons transformaram-se em cores, as cores transformaram-se em riscas brancas e pretas que me atravessavam a cabeça de lado a lado.

E tudo passou a estar do lado de lá dum nevoeiro branco. E eu? Eu estava do lado de cá do nevoeiro. Sempre estive!

novembro 16, 2006

JORGE LOPES E "INFINITO" a 15ºN e 40ºW

Embora com pouco vento, a travessia do Atlântico em solitário por Jorge Lopes no "Infinito" está a correr bem e no seu último telefonema de "Iridium" comunicou a posição de 15ºN e 40ºW. Com ele estamos todos nós, partilhando o entusiasmo do desafio e o desconhecido sempre presente.

Que os ventos e o mar te sejam favoráveis...!

Jorge Lopes no comando do "Infinito 3"

INFINITO NA POSIÇÃO 15ºN, 40ºW

novembro 15, 2006

FOTOS HISTÓRICAS DA CONSTRUÇÃO DO NAGUAL


No Nagual, blog da embarcação mais bonita de Cascais, quiçá de todo o Universo, começam a aparecer as fotos históricas da construção do Infinito 3/Figôs/Nagual. As fotos foram gentilmente cedidas pelo Jorge Lopes (o construtor e primeiro skipper), actualmente a atravessar o Atlântico em solitário no seu Infinito.

BACK IN BUSINESS (VOLTEI!)

Após estadia prolongada no hospital, sofrendo em silêncio e sem visitas autorizadas, voltou para casa curado. Está um pouco abalado, mas a recuperar as forças e o peso que lhe é normal. O apetite aumenta de dia para dia e até já se sente capaz de ir à internet, ver e enviar uns mails, ir aos blogs dos amigos e até deixar uns comentários de ocasião. Enfim, a vida começa a pouco e pouco a voltar à normalidade, para contentamento do escriba. Acabaram-se as noites de dois filmes seguidos na televisão. Acabaram-se as incursões clandestinas pelos computadores do atelier. Acabaram-se as sornas todas tortas no cadeirão do escritório e acabou-se o autismo informático em que me encontrava.

Como já devem ter percebido, refiro-me ao meu portátil que foi vítima de uma trombose digital com afectação dos orgãos da visão àcerca de um mês. Os orgãos vieram de Espanha e o transplante foi executado em Portugal com sucesso!

Estamos todos muito contentes. Cá em casa já ninguém me podia aturar! Safavam-se os fins de semana a navegar, pois claro!