dezembro 18, 2006

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO



Passou-me pela cabeça a idéia mirabolante de que a Sailor Girl é uma personagem inventada por uma Tríade obscura, ou por uma Sociedade Secreta do tipo do Código Da Vinci, por forma a humanizar um desígnio secreto e obscuro relacionado com o mar.
Se calhar, no início houve uma Sailor Girl, mas depois com o sucesso do blog Atlântico Azul, a verdadeira Sailor Girl foi raptada por membros dessa Sociedade Secreta, embora nos façam crer que tudo é como dantes. Mas não, senão vejamos: - É humanamente impossível ter uma quantidade tal de posts diários, já para não falar das fotos e poemas, por vezes em tradução bilingue, e ultimamente a discreta, mas insistente, dedicação à causa monárquica, misturada com estratégias do governo para o desenvolvimento da náutica nacional...

Experimentem ir ao Atlântico Azul e a sensação é demais. Até nos falta o ar...

Vão por mim, ali há marosca...Queremos a Sailor Girl de volta!!! Se todos levantarmos a nossa voz, talvez haja esperança que ela volte, não como o D. Sebastião num dia de nevoeiro, mas como a nossa querida, simpática e simples Sailor Girl.

Não acredito em Teorias da Conspiração, mas que “eles” andam por aí, andam!

dezembro 12, 2006

TRAVESSIA EM SOLITÁRIO - ETAPAS


Embora o Jorge Lopes já tenha atravessado o Atlântico por mais de uma vez, fê-lo sempre acompanhado, inclusive com o Manuel Martins no Casvic, do Brasil para a Cidade do Cabo, desta vez efectuou a travessia do Atlântico em três etapas e em solitário.

A primeira foi Lisboa/Porto Santo, a segunda foi Porto Santo/Lanzarote e a terceira, Lanzarote/Martinica.

Qualquer delas foi diferente, como se pode ler nos e-mails que a seguir transcrevo e que resumem, e muito, a travessia em solitário.

Quando lhe perguntei, Jorge, porquê atravessar o Atlântico em solitário? A resposta foi breve e sucinta, Porque está lá à minha espera!

1ª etapa – Lisboa /Porto Santo

Cheguei a Porto Santo Sábado de manhã. Não foi a melhor viagem da minha vida, mas .. como cá cheguei, o resto depressa se esquece. Aliás esta é a grande característica do mar. Quando está mau pensamos que tão depressa não voltamos, mas depois... quando chegamos a um porto e vemos as águas calmas, pensamos que talvez tenhamos exagerado e que da próxima vez o mar não vai estar tão mau. É uma relação de amor e falsas promessas...

Por alguma razão todos os povos latinos tratam o mar no feminino. Só os Portugueses acreditam que ele ( LA Mare) merece ser tratado no masculino.

Para a história ficam 74 horas de viagem, 36 horas de vento entre os 35 / 38 nós, um barco que não sabe ou não quer andar a menos de 6 nós, uma capuchana rasgada, uma bóia de ferradura arrancada, um armário da proa descolado, um barco demasiado largo para cozinhar e 3 rolos de massa chinesa comidos em 3 dias.

De qualquer maneira acredito que a 1ª etapa é sempre a mais difícil.

2ª Etapa Porto Santo/Lanzarote

A viagem de Porto Santo à Madeira correu normalmente.Na Madeira vi os progressos do Alberto João. Fiquei com a sensação que não foram os madeirenses que arquitectaram as melhorias...Difícil, difícil, é encontrar uma livraria na Madeira...comprar um jornal...

Confesso que chegar a Lanzarote foi como receber uma lufada de ar fresco. Não há árvores mas está tudo tão arrumado, as casas estão todas juntas e são todas iguais, brancas com janelas verdes, o resto é paisagem lunar castanha ,turismo qb e sol, sol e céu azul o dia todo .A viagem não podia ser mais tranquila, 12 a 17 nós de vento pela alheta.

Continuo a ter de reparar a capuchana e o motor fora de bordo. Ainda não consegui por a funcionar o piloto de vento e se quero fazer uma travessia rápida preciso que ele funcione. Tenho medo de apertar com o piloto eléctrico.

3ª Etapa Lanzarote/Martinica

Vinte e dois dias e algumas horas durou a viagem. Média de 5 nós, o que não é brilhante, mas o grande responsável é o Pedro Gomes.Pedi-lhe ventos de 50 nós ,de preferência pela proa e tudo o que ele me arranjou foi ventos de 10 nós pela popa. Ao 11ºdia a média era de 98 milhas dia!

Vá lá, tinha apanhado um atum de 1,5 metros.

Faltava mais emoção nesta 1ª parte, assim resolvi começar a por o spi. 1 º o simétrico. Ao fim do dia estava todo rasgado.
2º dia pus o assimétrico, mas tirei-o à noite. Ao 3º dia, pus de novo o assimétrico mas resolvi não o baixar à noite . Fui dormir com o comando do piloto na mão. Tudo correu bem até às 4 horas da manhã, altura em que decidi levantar-me.

O rumo não era o melhor, arribei e ai estava o barco a fazer 8,5 nós no bom rumo. Ao fim de 10 minutos o "almirante"(piloto automático) distraiu-se e o spi embrulhou-se no estai da proa...


Imediatamente agarrei o leme, mas era tarde de mais...tentei baixar a manga...nada, tentei soltar a adriça ...nada. Tempo de meditar...Sensação curiosa...de fato de banho, noite escura , lâmpada de mineiro na testa a meio do Atlântico, a 2000 milhas das Caraíbas...Humildade, humildade...por onde andavas tu ?


Nos restantes 11 dias e depois de uma longa conversa com o Pedro ele lá me pôs na auto-estrada dos alísios e a média subiu para 150 milhas dia de VMG.


O último dia de viagem começou com um aguaceiro ao nascer do sol, 35 nós de vento e chuva, chuva com uma força impressionante, parecia que estava debaixo de uma cascata. Mais uma vez o almirante comportou-se irrepreensivelmente. Às 11 horas parou a chuva .À hora do almoço estava sol, faço os contactos habituais e ...pouco depois fico sem piloto.

Faltam 100 milhas!!...vai ser difícil chegar amanhã de manhã...o moral ressente-se, tento pôr o piloto de vento mas estão 8 nós e ele não se aguenta. Só resta uma solução. Visto pela 1ª vez o fato de mar e preparo-me para só largar o leme quando faltarem 75 milhas.Mas, ao leme pensa-se muito...desligo toda a electrónica. Quando a volto a ligar os repetidores do mastro, que desde manhã, após a carga de água ,deixaram de funcionar começam a buzinar, estão em curto-circuito.

Falo com o grande Mago Francisco Gomes que me diz para desligar os aparelhos. Corto o cabo e...como se tivesse libertado de um tumor maligno o grande almirante volta a funcionar. O moral dispara, a garrafa de Porto ressente-se...
São 11horas no Le Marin na Martinica e eu estou a fazer peões em frente ao cais de espera para poder desembarcar...


Mal acosto os autocnes ficam impressionados com o rabo de atum pendurado à popa do "Infinito".

-Tu l'a péché sur unne épave ?!-Je l'ai péché au milieu de l'Atlantique.