setembro 08, 2004


DIA 16 - ST. VINCENT - Blue Lagoon
Amanhecer Posted by Hello

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 17

Dia 17 - 14/04. Newark / Cascais

Quarta-feira, dia 14 de Abril.

Viagem com bastante turbulência. Decorreu sem incidentes e passei levemente pelas brasas. À chegada a Lisboa, 9h45, com 40 minutos de atraso, perdemos de vista os nossos passageiros, que nem um adeus ou um obrigado disseram. Antes assim, desapareceram de vez.

Alguma bicha (agora é bem dizer fila) na amostragem dos passaportes, mas na recolha de malas estava tudo bem. Cá fora estava o meu pai à espera e de seguida levou-nos aos três para casa. O Luís como ficava fora de caminho apanhou um táxi. Entregue o Paulo e a Sílvia, cheguei a casa finalmente por volta das 10h30, 11h.

Recepção esfusiante do Pollock. Esteve quase cinco minutos a saltar à minha volta e a lamber-me todo.
A Catarina gostou da barba crescida e não saltou à minha volta.
A Bárbara acordou a abraçar-me o pescoço.

Estava em casa, não muito longe do mar, e com tripulação. Só falta o barco para irmos todos navegar em direcção a um país do Sol imaginado ou real, tanto faz.
O que é preciso é navegar, como dizia o Chico Buarque: Navegar é preciso / Viver não é preciso…

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 16

Dia 16 - 12/04. St. Vicent / Newark

Terça-feira, dia 13 de Abril.

Custou a acordar, às cinco em ponto. Aqueci água para fazer um Nescafé bem forte, complementado com umas fatias de “banana bread”, o melhor pão das Grenadines. Como o nome indica é feito com banana fresca.
Ao fim de três viagens com o dinghy a bagagem estava toda em terra. O transfer já estava à nossa espera e seguimos logo para o aeroporto. Iria começar o longo caminho para casa, com os intermináveis check-ins e travessias pelos locais de segurança.

Logo no aeroporto de Kingstown resolveram revistar o meu saco e lá se foi toda a arrumação. Quando se viaja só com um saco, todas as coisas têm o seu lugar preciso para não se partir nada ou para a roupa conseguir estar apresentável. É óbvio que depois da “revista” tudo ficou num caos e a roupa num molhe de trapos.

A partir do momento em que entrámos no aeroporto de Kingstown deixámos praticamente de ver os (nossos) passageiros. No aeroporto de Antigua, acabei por gastar os últimos $EC’s num disco do músico negro Shadow, o mesmo que tinha conduzido o ritual tribal de há duas noites atrás.
Até Newark, onde o avião borregou na primeira aproximação por causa do vento, e demorou mais meia hora a dar a volta e aterrar no sentido mais correcto, foi um fartar de levantar e aterrar, de pôr malas na bagageira, fazer check-ins, tirar sapatos, tirar cinto,etc.etc.etc.
Em Newark, chovia bastante e estavam 13ºC, mau tempo e espera no avião para descolar. Saímos quase com uma hora de atraso. Felizmente o avião não ia cheio e nós íamos mais à vontade.
Hora prevista de chegada a Lisboa 8h30, hora local. Em Newark eram 9h30 da noite quando descolámos. Em Lisboa seriam 2h30 da manhã de quarta-feira.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 15

Dia 15 - 12/04. Bequia / St. Vicent – Blue Lagoon

Segunda-feira, dia 12 de Abril.

Fomos cedo para terra com o intuito de ir primeiro ao Banco levantar $EC’s e de seguida tratar dos papéis e fazer algumas compras. O Banco estava fechado assim como a maior parte das lojas. Aqui nas ilhas o feriado da Páscoa é extensível à segunda-feira.

Descobrimos uma loja de modelos de veleiros de pesca à baleia, feitos em madeira com uma perfeição enorme, mas o preço estava um bocado fora dos nossos orçamentos, todos a começar em US$ 250 (os mais pequenos).

Papelada tratada e caiu uma chuvada tropical que nos apanhou desprevenidos, não em terra, mas em relação ao barco. É que os albóis tinham ficado todos abertos para arejar o barco e ajudar a secar os colchões já molhados da noite anterior!
Resultado, os colchões dos camarotes à proa ficaram todos encharcados, assim como tudo o que estava debaixo dos albóis e das escotilhas. As poucas compras foram feitas e era hora de bebermos uma cerveja. Fomos ao mundialmente famoso bar restaurante Bistro, que como dizia no letreiro à porta tinha sucursais em Paris, Londres e Nova York.

Os passageiros foram almoçar para o barco e nós, a tripulação, ficámos a preguiçar uma última hora, bebendo cerveja, comendo uns hambúrgueres de peito de frango e apreciando aquele ambiente pela última vez neste cruzeiro. Para variar havia festa popular no recinto central do porto, com bancas de comida e grelhados. Os ferries que chegavam, debitavam gente que aproveitava o feriado para passear pela ilha e participar na festa. Foi com uma certa nostalgia antecipada que largámos de Bequia em direcção a St. Vincent e a Blue Lagoon, onde tínhamos de entrar com o barco antes das 16 horas.

Bequia bem podia ser “aquele” sítio imaginado para passar a viver.

Com o mar com algumas vagas e vento contra, fomos numa bolina cerrada até chegarmos bem perto de Blue Lagoon e aí, pela primeira vez neste cruzeiro, ligámos o motor para ir mais depressa e chegar a horas. A bolina e os sucessivos bordos que ainda eram necessários fazer, não nos permitiriam chegar a tempo.

Para entrar na lagoa, veio um semi-rígido com um piloto para conduzir o barco em segurança pelo estreito canal entre os recifes. Além disso, para quem não conhece o local, os recifes estavam muito mal sinalizados.

E foi com tristeza que fechámos o saco da vela grande e empandeirámos os cabos. Ainda iríamos ficar aquela noite a bordo, mas o gozo da vela e do mar tinha acabado por agora.
Era hora de arrumar o barco e deixar as malas (ou os sacos) feitos, porque a alvorada seria por volta das 5h e tudo tinha de ficar pronto já.
Como era a última noite nas Caraíbas, resolvemos ir comer fora, a Kingstown. Alugámos um táxi, para todos, passageiros e tripulação, e fomos levados para um restaurante mais ou menos caseiro, que por ser feriado só lá tinha a dona. Demorou o costume (horas), mas o caril de peixe com fruta-pão e ervilhas estava óptimo. Uma fatia de bolo de laranja para sobremesa e ficou tudo por cerca de 40 EC$ por pessoa, cerca de 14 euros. Voltámos para o barco no mesmo táxi e fomos dormir para os colchões já mais secos, mas ainda húmidos da chuvada da manhã. A noite estava mais fresca do que é costume e por isso não custou muito a adormecer.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 14

Dia 14 - 11/04. Bequia

Domingo dia 11 de Abril – Domingo de Páscoa

Acordei sem a mais leve ponta de ressaca. Primeiro pensei que não tinha cabeça e por isso não me doía, depois pensei que se estava a pensar era porque ela, a cabeça, estava lá, o que não estava, felizmente, era aquela moínha no lóbulo direito ou esquerdo. Acordámos um pouco antes de nos virem buscar ao barco para o mergulho já combinado na véspera.

Ainda deu tempo para fazer um café bem forte e acordar dentro de água a fazer snorkelling, enquanto o Paulo e a Sílvia desciam a 15 / 20 metros na zona mais funda do recife.

De volta ao barco, preparámos um almoço de tortilha com legumes que nos lançou de seguida numa sesta. Todos, menos o Paulo e a Sílvia que foram fazer mais um mergulho, desta vez junto aos rochedos de Moonhole, o tal sítio do arquitecto new age. Só acordei quando voltaram.

A festa da regata, na praia, começava às 3h da tarde e com a sesta já eram quase 6h, mas mesmo assim ainda fomos até lá no dinghy. A festa estava quase no fim mas a animação era grande. Desta vez não havia entradas a pagar e por isso estava lá o povo todo. Os que tinham estado na festa da noite anterior e os outros que tinham ido fazer piquenique para a praia. Era festa e estava tudo dito. Até a polícia entrava na dança com o carro a apitar e dançarinos à frente a dançar ao ritmo da buzina e dos faróis.

Começou a escurecer e ao dar uma volta pelo recinto, ou melhor, pelo local, que era toda a zona entre o areal da praia e a estrada de terra que lhe dava acesso, senti uma pancada leve no ombro, virei-me e reconheci uma rapariga que tinha estado a dançar ao meu lado, junto ao palco, aquando da actuação do Shadow. Reconhecera-me e simpaticamente trocámos os cumprimentos do costume.

Novamente a festa era negra e sentíamo-nos à vontade a passear naquela mole de gente. Não havia insegurança e todos ou quase todos nos tratavam de um modo simpático.
Quando a festa acabou fomos para o barco preparar o último barbecue e grelhar o resto dos peixes que tínhamos pescado. Os nossos passageiros; era como começávamos a chamar ao Nuno e à Teresa pelo facto de nunca ou quase nunca se integrarem no espírito do que é uma tripulação; vinham a caminho e começámos a preparar o jantar.
O jantar ficou pronto quando o Luís chegou com os passageiros. Foi o último jantar a bordo, o próximo dia seria a última navegação deste cruzeiro.
Ainda fomos a terra beber um copo num bar de brancos, para desanuviar. Bebemos uma Piña Colada, depois de um passeio a pé pelo porto de Bequia.O dia seguinte seria para tratar das papeladas de entrada (de novo) nas Grenadines e para tentar fazer algumas compras de “recuerdos”. Não vai ser fácil porque quase já não há artesanato local.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 13

Dia 13 - 10/04 Petit Saint Vicent / Bequia

Sábado, dia 10 de Abril.

Ainda com a boca a saber por vezes ao Rum Rivers que o Luís tinha comprado em Grenada, na destilaria de rum, e que sabe a gasolina sintética e cheira a álcool daquele que se usa para acender o braseiro, acordei um pouco mal disposto. Na véspera tínhamos tentado, em vão, fazer uns Cuba Livre’s que não soubessem a álcool isopropílico, ou coisa do género. Experimentámos tudo, montes de sumo de lima e açúcar, mas a única maneira de saber bem era sem aquele Rum.
No entanto assim que ataquei o pequeno-almoço de cereais e café fiquei operacional. Guardámos o Rum Rivers para o caso de nos faltar combustível para o motor do dinghy, pode é ser forte de mais...

De seguida lavámos e limpámos a louça do dia anterior e aproveitámos para arrumar o frigorífico e despejar a água do fundo. Tudo arrumado preparámos o barco para a viagem rumo a Bequia, o nosso objectivo do dia. A ideia era passar o dia de domingo em Bequia, ou entrando numa regata à volta da ilha ou fazendo mergulho com garrafas (apenas a Sílvia e o Paulo).
Como sempre, com todos os cenários em aberto, saímos em direcção a Union Island e passámos no canal, deixando Palm Island por estibordo. Fizemos um bordo no South Mayreau Channel e deixámos a ilha de Mayreau, tentando passar a barlavento da ilha Catholic. O canal entre a ilha e umas rochas visíveis era bem estreito, por precaução navegámos a sotavento da ilha abrindo o rumo para Bequia. Passámos ao largo da ilha de Canouan numa bolina folgada e com pouco vento. Desistimos de ir à ilha de Moustique, deixámos Isle a Quatre a barlavento e chegámos à ilha de Bequia em plena regata festiva.

Novamente procurámos uma bóia para amarrarmos a “lady”, e fundeámos mais ou menos no mesmo local da ida. O almoço foi arroz no forno com a base da bolonhesa da véspera por cima e queijo, que era suposto derreter, mas que não derretia. Enquanto o Nuno e a Teresa foram para a praia no dinghy nós ficámos a bordo e almoçámos nas calmas.

Ainda abastecemos o barco de água e livrámo-nos do lixo. Estes serviços são óptimos, chama-se pelo VHF e aparecem logo com fuel, water, waste, etc. Este chama-se Dafodil e é impecável. Ficámos o resto da tarde a preguiçar no barco, até ir buscar a Teresa, ao cair da noite, à praia.
Quase que não a encontrámos com o dinghy, estava noutra praia e já se via muito mal. Por pouco ficava lá.

E era hora de irmos para terra, havia festa com músicos convidados da Trinidad num baile local. A caminho da festa encontrámos por acaso o Jimmy que se prontificou a nos levar até lá. Acabámos por lhe pagar a entrada, que consistia nuns bilhetes que se compravam numa barraquinha, do lado de fora, e quando os entregávamos ao porteiro, ele punha-nos uma pulseira de papel plastificado com um número e presa com um autocolante fortíssimo. Àquela hora ainda estava pouca gente, por isso voltámos a sair e fomos dar uma visita guiada aos sítios e bares mais simpáticos.

Em cada um bebia-se uma cerveja para o caminho e a noite começou a animar. De volta à festa, que era num recinto de basquetebol ao ar livre, junto ao campo de críquete. Foi-nos explicado que para as mijas havia dois WCs, o “internacional” que consistia numa casota com retrete química e o “local” que eram as várias sebes que delimitavam o recinto do campo de críquete. Por sugestão do Jimmy, o Luís comprou uma garrafa de rum (é mais barato que a cerveja), garrafa que era suposta ser daquelas espalmadas de meio litro. Como não havia, comprou uma normal de litro.

Quando apareceu vinha com o bolso dos calções todo cheio com a garrafa, saindo o gargalo pelo lado. A técnica, como faziam os locais, era comprar Coca-Cola com gelo e misturar à socapa o rum. As Coca-Cola foram-se sucedendo e a festa foi animando. Veio a pausa com uma passagem de modelos de roupa e fatos de banho caribenhos. Os modelos eram locais e alguns eram lindíssimos, com toda aquela sensualidade e erotismo que lhes é natural. Refiro-me aos modelos femininos, porque os masculinos eram os troncos do costume.

Para o clímax final estava reservada a actuação dum músico famoso da Trinidad que dava pelo nome de Shadow. Já com uma certa idade e barba branca, mas com uma energia enorme, foi-nos pondo todos em estado de transe. Se estávamos uma dezena de brancos neste ritual já era muito, mas para o fim éramos todos um único corpo negro que dançava, cantava e respondia à música em uníssono.

Que contraste com o bar cheio de europeus e americanos junto ao clube naval, com a música rock nostálgica do costume. Também bebemos uma cerveja lá, mas saímos logo à procura de coisas mais autênticas e mais fortes.

No fim da festa, com toda aquela massa a dançar em uníssono, começou a cair uma chuva forte que pareceu uma bênção de frescura. Aos corpos suados e quentes sabia bem esta água que nos encharcava e nos cobria. Ninguém arredou pé e a celebração continuou cada vez mais profana. Diluímo-nos completamente naquela massa a vibrar.
De volta ao barco, eu e o Luís demos apenas três passas no resto da joint da tal festa da garagem e foi a martelada final. O Paulo já estava clinicamente ausente. Quando estávamos a preparar o dinghy para regressar, apareceram dois tripulantes dum catamaran e pediram-nos boleia. Como bons marinheiros achámos o barco deles e à segunda, a Sílvia tinha-se esquecido de ligar a luz de mooring, achámos o nosso.

Já no barco, depois de ter guardado religiosamente os meus sapatos de vela, secos, aquecemos alguma comida para aplacar a fome que começava a nascer. Nunca os restos souberam tão bem. No camarote tivemos de tirar o lençol e voltar os colchões ao contrário porque estava tudo molhado com a chuvada que tinha entrado pelo albói aberto. Tudo voltado, enfiei-me dentro do lençol e adormeci instantaneamente. Nem me lembrei que o albói continuava aberto. Nem me importei muito quando a chuva voltou de novo a cair e o Paulo teve de o fechar porque voltava a ficar tudo novamente molhado. Eu estava mesmo por baixo do albói e não dava por nada. Estava abençoado por Iemanjá!

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 12

Dia 12 - 09/04. Grenada / Petit Saint Vicent

Sexta-feira, dia 9 de Abril.

O dia começou com a montagem da vela grande no mastro. Assim que as ligações e amarrações ficaram prontas, tomámos o pequeno-almoço a bordo e saímos em direcção a Carriacou.

Antes de arrumar o dinghy no convés, tirar o motor e o depósito de gasolina, ainda fomos dar uma volta rápida até à baía do centro de St. George para tirar umas fotografias ao casario. Com a quase ausência de marés, que não ultrapassam os 50 a 60 cm, as ruas e as casas estão quase ao nível do mar, o que gera uma visão nada comum quando nos aproximamos por mar, já que estamos habituados a ver sempre um muro com cerca de 4 ou 5 metros por causa das nossas marés.

Saímos a um largo, com algum vento, e rapidamente começámos a navegar numa bolina cerrada, o que seria a tónica do percurso de hoje. Lançámos de novo a linha de pesca e passado pouco tempo mordeu o isco uma Dourade Coryphène com cerca de 60 a 80cm. Foi muito difícil puxá-la até ao barco e quando já estava à vista, com todas as cores visíveis, verdes, azuis, rosas, etc. partiu o fio de aço do anzol e escapou-se. Foi a desilusão geral, com o peixe a cerca de 1,5 a 2 m do barco e a ficarmos de mãos a abanar. Acontece, e neste caso aconteceu que não voltamos a apanhar mais nada até chegarmos a Petit St. Vicent.

Fizemos todo o percurso junto à costa oeste da ilha de Grenada. Quando chegámos ao cabo de Hanga Luanga fomos em direcção à ilha Diamond contornando Ronde Island pela costa oeste, tomando rumo para ilha de Petite Martinique passando a leste de Carriacou. Esta parte do percurso foi mais difícil, com a vaga geralmente pela proa, o que aliado à bolina cerrada tornava a navegação bonita mas trabalhosa.

Só quando dobrámos Kendeace Point e orçámos para evitar o recife que se apresentava por noroeste é que o mar ficou mais calmo, e com a vaga mais pequena. Contornámos a ilha de Petite Martinique e fundeámos em frente à ilha de Petit Saint Vincent.

Perto do pôr-do-sol o Luís, o Paulo e eu ainda fomos à ilha de Petite Martinique à procura de azeite e tomate pelado para a bolonhesa que íamos fazer para o jantar. Fomos no dinghy, a distância era razoável, mas foi feita a abrir, chegando já de noite à ilha. Bastante pobre, em comparação com a ilha de Grenada, só encontrámos mini-lojas com prateleiras de víveres básicos. Tivemos de ir a três sítios, para encontrar umas pequenas latas de tomate pelado e umas garrafitas pequenas de azeite, que verificámos depois serem amostras.
Completamente às escuras atravessámos o canal entre as duas ilhas e vagueámos por entre as luzes dos mastros dos veleiros fundeados (aqueles que tinham as luzes acesas) e lá encontrámos o nosso já com a luz de mooring acesa. A Sílvia não falhava com os procedimentos básicos de segurança.
Com todas estas démarches acabámos por jantar tardíssimo, preenchendo a fome com um paté de atum que o Luís fez com parte do atum fresco que tínhamos pescado no outro dia. Uma delicia para o estômago e para a nossa fome. Jantámos tarde, mas jantámos!!! Eram quase 10h e já estávamos todos cheios de sono, mas com a excepção do Nuno jantámos todos.
A noite estava completamente estrelada, e a Lua cheia tardava a nascer. O balouçar suave do barco ajudava-nos a ir para os camarotes. A dama embalava os seus ocupantes num sono pesado.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 11

Dia 11 - 08/04. Grenada

Quinta-feira, dia 8 de Abril.

Choveu durante a noite. Estamos ainda na dry season, mas a um mês da rainny season. No entanto chove pouco e com pouca intensidade. Levantámo-nos cedo e preparámos tudo para levar a vela para terra com o fim de ser reparada.

Já com a bandeira de cortesia posta, atracámos no sítio de pôr gasóleo com uma manobra que fez uso de três cabos, à proa, à popa e uma regueira mais ou menos a meio. Vela entregue para reparação, contratámos um serviço de táxi com guia para todos, com o fim de visitar o interior da ilha. Havia umas quedas de água para ver ou tomar banho, algumas fábricas, uma cidade interior, etc.

Fundeámos de novo a Dolphin Dance (não há dúvida que a embarcação é feminina, com todas as birras e caprichos típicos…) na baía e fomos ter com o George que seria o nosso motorista e guia durante o dia.

Saímos de St. George’s e começámos logo a subir e às curvas, o que viria a ser a tónica de todo o percurso na ilha. Uma Sintra gigantesca e exótica, cheia de rampas da Pena, umas a seguir às outras.
A primeira paragem foi na queda de água de Annandale, que estava um pouco vazia porque ainda não era a época das chuvas. O local parecia o parque de Monserrate, com a excepção de a vegetação ser mais exuberante e exótica e no local do lago da queda de água estarem dois jovens rastas a ver se conseguiam alguns E.C. dollars, com explicações desnecessárias e a promessa de um deles se lançar em mergulho do topo do rochedo, o que veio a fazer para gáudio dos turistas que vieram a seguir.

De seguida fomos em direcção a Grenville, onde acabámos por almoçar num snack-bar agradável. A comida era local, exótica e saborosa. Ainda visitámos o mercado, com todo o exotismo que há nestas paragens, e acabei por comprar batatas doces para cozer no barco. Como de costume, éramos os únicos brancos, mas, além de ninguém nos importunar ou reparar em nós, eram todos educadíssimos. Nas calmas, flanámos pelo mercado como se em Portugal estivéssemos. Já nos começamos a habituar a toda esta convivência e quase total ausência de brancos, que, quando se vêem, normalmente são tripulantes de veleiros como nós!

Saímos de Grenville e fomos em direcção a uma fábrica de rum, uma destilaria tradicional e uma das mais antigas da ilha. Efectivamente, fora os tanques de fermentação em cimento, em vez das pipas em madeira, tudo pertencia a séculos passados. Fizemos uma visita guiada à destilaria e acompanhámos todos os passos desde a apanha da cana-de-açúcar até ao final, o Rum Rivers com cerca de 80 a 85º, o rum mais forte da ilha. No final da visita que nos custou a cada um 5 $EC provámos um pouco, quase só molhar os lábios, do rum produzido. A mim sabia-me a álcool etílico, era forte mas bem forte. Fiquei com a garganta a arder e só me passou quando comi um pouco de chocolate na fábrica seguinte que visitámos.
Acabada a visita à Fábrica de Chocolate, voltámos a St. George’s pelas curvas, subidas e descidas do costume. Todo o percurso cheio de lombas para moderar a avelocidade, lombas que davam pelo nome de “sleeping polices”.

Toda a ilha é um jardim botânico imenso. De volta à baía, tomámos duche no clube naval, ao preço de 1 $EC cada e fomos ao supermercado fazer as últimas compras para os dias restantes, porque estávamos a entrar no período da Páscoa e tudo iria fechar. O Luís e o Paulo ficaram no clube à espera da vela arranjada e nós fomos às compras. Já abastecidos com tudo o necessário, começámos a preparar a “janta”. Seria peixe grelhado, um comprado e outro apanhado, com batata cozida e vinho branco chileno. Montámos o grelhador de novo à ré, e desta vez tínhamos um saco de cana-de-açúcar esmagada que tínhamos trazido da destilaria e que se chama “bagaço”, para ajudar a acender o braseiro.
Bifes de atum grelhados, mais um peixe escalado na brasa, tudo acompanhado com batatas assadas no forno, salada e vinho branco chileno. O atum era o que tínhamos pescado na véspera e estava delicioso. Porque será que o peixe pescado por nós sabe sempre melhor que os outros?
É claro que após o jantar já ninguém pensava em ir a terra como se tinha pensado, e tendo arrumado o convés, arrumou-se igualmente o dia e fomos todos dormir.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 10

Dia 10 - 07/04. Carriacou / Grenada

Quarta-feira, dia 7 de Abril.

Acordámos às 6 horas da manhã e começámos a preparar o barco para sair o mais cedo possível. Vimos um barco de pescadores a voltar da faina, fizemos sinal para os chamar, e aproveitámos para comprar 2 peixes óptimos, um para grelhar, o outro para cozer.

Por volta das 7h30, largámos o pano e traçámos rumo em direcção à ilha de Grenada. Começámos uma navegação bem cautelosa, com marcação do ponto de hora a hora. O rumo foi em direcção às ilhas Sisters para passarmos ao largo do círculo de protecção dum vulcão activo subaquático. Quando lá chegámos, decidimos contornar a ilha de Grenada pela costa leste. Eram mais horas de navegação mas era mais curtido e difícil. Fizemos alguns bordos, alguma bolina, mas a maior parte do percurso foi com popa arrasada.

Hoje foi o primeiro dia em que apanhámos peixe no anzol, pescando ao correr. Logo à saída de Carriacou apanhámos um atum com algum tamanho. Deitámos rum nas guelras para evitar o sofrimento. De seguida arranjámo-lo logo no convés e preparámos bifes para fazer mais tarde. De novo, um pouco mais tarde, quando já tínhamos a ilha de Grenada por estibordo, a linha ficou esticada e mais um peixe bem grande mordeu o anzol. Parecia que o facto de termos peixe a bordo chamava outros peixes. Depois resolvemos não pôr mais a linha porque se apanhássemos mais peixe era difícil guardá-lo.

De assinalar ainda que o Nuno ao lavar o balde à popa, numa atrapalhação qualquer, largou o balde e adeus, afundou-se num ápice. Como castigo terá que pagar uma rodada em terra.

Contornámos a ilha pelo Sul e dobrámos o Cabo Saline, o local onde está construído o aeroporto. Chegada sem dificuldade a St. George’s, a capital. Em St. George’s fundeámos na lagoon junto ao yacht club, uma baía protegida e bem simpática com bastantes veleiros fundeados, mas ainda com espaço para nós. Ao arriar a vela grande, reparámos que o pequeno rasgão que tinha detectado no inicio estava enorme, além do facto de termos descoberto outro. Solução, ou remendávamos a vela com “tape” ou mandávamos coser a vela a um sailmaker. O dono do barco preferiu, após uma chamada para os Estados Unidos, mandar coser a vela, pelo que tivemos de a desmontar do mastro, para, logo de manhã, pô-la a arranjar, enquanto passaríamos o dia a visitar a ilha.
Assuntos técnicos tratados, o final de tarde foi ocupado a deitar abaixo uma garrafa de Mount Gay Rum. Depois, cozemos o peixe que dava pelo nome de “Maquerel”, que estava delicioso, acompanhado de batatas cozidas e, pela primeira vez, nesta viagem, acompanhado por vinho branco chileno, baratíssimo por sinal. O vinho foi comprado para temperar os bifes de atum, mas como o preço era convidativo, cerca de 10 $EC, comprámos duas garrafas que se beberam logo. Louça lavada e posta a secar fomos dormir. O dia tinha sido bem forte e o descanso era o que todos tinham em mente. E assim foi.

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 09

Dia 09 - 06/04. Union Island / Carriacou

Terça-feira, dia 6 de Abril.

De manhã fomos a motor até Palm Island e ficámos por lá a mergulhar. A água era claríssima e havia bastantes rochas e recifes cheios de cardumes e espécies diferentes de peixes. Fizemos snorkelling cerca de hora e meia e de seguida levantámos pano e dirigimo-nos para a ilha de Carriacou, que pertence a Grenada e já é outro país. Tínhamos de chegar entre as 15h00 e as 16h00, para fazer a entrada na Alfândega e na Imigração. Burocracia, carimbos, rubricas, funcionários, etc.

Fizemos uma navegação à maneira, tirando o ponto de meia em meia hora para sabermos bem onde estávamos, a corrente e a velocidade real que estávamos a fazer. Com a agulha de marcar era fácil, mas marcar o ponto no mapa dentro da cabine fechada, íamos à bolina cerrada, com todo aquele calor sufocante já era mais difícil.

Passámos por Little Saint Vicent e Petite Martinique, ficavam do lado de bombordo e rumámos para a baía de Hillsborough, o sítio mais importante de Carriacou.
Fundeámos por volta das 15h00 e fomos logo para terra tratar da papelada. Demorámos algum tempo nos Customs e quando chegámos à Imigração, para entregar os papéis da tripulação e os passaportes, eram 5 para as 4. Chamámos o funcionário que chegou, arrogante e malcriado, a dizer que o limite para o atendimento eram as 4 horas como estava escrito na porta. Argumentámos que não eram 16h00, ele disse que “só amanhã” e nós não desistimos, argumentámos ainda mais e ele lá nos atendeu com os maus modos comuns a todos (ou quase todos) os funcionários públicos.

Era interessante verificar que a única coisa diferente em todo aquele cenário era apenas a cor da pele do funcionário e o calor tropical e húmido que fazia. De resto podia ser em Oeiras ou Cascais ou Sintra ou Lisboa ou em qualquer sítio onde existissem funcionários públicos daquele tipo. Especulou-se na altura sobre uma doença induzida pelo uso dos carimbos, uma espécie de conspiração organizada pela guilda dos carimbos para dominar o mundo através do funcionalismo burocrático.

Com um suspiro de alívio, o local ainda por cima não tinha ar condicionado, saímos dali com pé ligeiro e fomos dar uma volta pelo local.

A vila, ou cidade, consiste basicamente numa rua principal e numa transversal que foi percorrida num instante. Era estranho sermos os únicos brancos na rua, com a excepção de uma inglesa, devia ser inglesa de certeza, que usava um daqueles chapéus que as inglesas têm a mania de usar e que se encontrava no minimercado a fazer compras. As construções não eram tão precárias como as das Grenadines mas muitas delas estavam em adiantado estado de degradação. Viemos a saber depois que era o resultado da passagem do último furacão.
Arranjámos um bar com bastante bom gosto, junto à praia, para bebermos uns cuba libres e preguiçar um pouco, enquanto o Luís ia para a sua saga da Internet. Ele, mais o portátil, mais os e-mails e mais as redes que não funcionavam. Não era sempre, mas era o mais comum.
A noite caía, e voltámos para o barco com o intuito de fazer o jantar, caril de frango, ou melhor, caril de pernas de frango. A bordo é um luxo e ainda sabe melhor se for comido ao ar livre no convés numa noite de luar.
O serão foi ocupado com a lembrança de sketches de filmes cómicos, desde o Woody Allen aos Monty Python. Para ajudar tínhamos o Rum Mount Gay. Apesar do nome todos bebíamos e ao que conste, além duma ou outra pequena ressaca, não houve efeitos secundários.
Os meus sapatos de vela que já estavam secos e felizes levaram-me até ao camarote, onde já não me lembro muito bem se dormi com eles calçados ou não...pelo menos durante algum espaço de tempo, até irem à vida deles.

DIA 15 - BEQUIA / ST. VINCENT Posted by Hello

DIA 14 - BEQUIA Posted by Hello

DIA 13 - PETIT ST. VINCENT / BEQUIA Posted by Hello

DIA 12 - GRENADA / PETIT ST. VINCENT Posted by Hello

DIA 11 - GRENADA Posted by Hello

DIA 10 - CARRIACOU / GRENADA Posted by Hello

DIA 09 UNION ISLAND/CARRIACOU Posted by Hello

setembro 06, 2004


DIA 08 - UNION ISLAND Posted by Hello

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 08

Dia 08 - 05/04. Tobago Cays / Union Island

Segunda-feira, dia 5 de Abril.

Acordei a meio da noite para fechar o albói do nosso camarote. Soprava uma ventania danada e fazia um pouco de frio. Ao espreitar pelo albói vi todo o conjunto de barcos fundeados no branco do reflexo da lua no mar, e as luzes dos mastros que faziam no conjunto novas constelações que oscilavam caoticamente no céu com poucas estrelas. Ainda ligeiramente preocupado com a sanidade mental dos meus sapatos, fechei o albói e voltei a adormecer.

De manhã, constatámos que estávamos com algumas falhas na despensa e decidimos ir até à ilha UNION ISLAND, para acabar o arranjo do guincho, e fazer as compras necessárias para a cozinha. Entretanto o Paulo não se calava de repetir que tinha a certeza de ter lavado os sapatos dele assim que chegara ao barco, estavam todos sujos de areia e ele tinha-os lavado à mangueirada. Agora estavam novamente todos sujos de areia, alí havia bruxedo...Afinal os meus sapatos estavam de boa saúde mental e ainda molhados da mangueirada inesperada da véspera.

Antes de sair, eu e o Nuno fomos para o dinghy para tirar fotos do “Dolphin Dance” com as velas cheias, a manobrar no recife com as ilhas por trás. Tirei bastantes fotos enquanto o resto da tripulação fazia os bordos necessários para fazerem duas voltas completas e proporcionar fotos de vários ângulos. Só não consegui tirar de frente devido à posição do Sol e às manobras do dinghy.

Saímos a um largo e ao fim de uma hora estávamos a fundear amarrados a uma bóia que nos indicaram. Como não tínhamos ainda o guincho a funcionar, resolvemos pagar o costume (40 $EC) para amarrar à bóia. De qualquer maneira era mais seguro e ficávamos mais descansados. Ainda nos lembrávamos da vez que tínhamos garrado na Grécia, onde por pouco não batemos num pontão dos ferries, salvou-nos na altura o aviso do piloto da Pinta, mas isso é outra história.

De seguida fomos a terra, enquanto o nosso mecânico, o Earl, ficava a bordo para o arranjo final do guincho. Em terra dividimo-nos em dois grupos. Eu e o Luís fomos tratar da papelada (clearance) para ir até às ilhas de Carricou e Grenada, enquanto os outros iriam fazer as compras de mercearias.

Antes das compras fomos todos ao banco trocar dinheiro. Havia filas longas, mas lá dentro não nos importámos de esperar porque estava bem fresco. Nos Customs (alfândega), o funcionário que nos recebeu era bem antipático e pediu-nos papelada a mais do que era preciso. Pagámos, sorrimos e fomos à procura da Immigration que, ao que viemos a saber, era no aeroporto. O Sol estava abrasador e por isso apanhámos o primeiro transporte que passou, uma Combi. Eu e o Luís éramos os únicos brancos na carrinha, e num curto trajecto chegámos ao aeroporto. Aí o funcionário era mais simpático e despachámo-nos depressa.

De volta ao cais encontrámos o resto do pessoal com as compras e voltámos ao barco para as arrumar. De seguida voltámos a terra, todos menos o Nuno e a Teresa, já nos começávamos a habituar. Em terra, passeámos pela rua principal e ao fim dum certo tempo encontrámos o Luís. Tinha descoberto um bar perdido num monte sobre a baía, bar esse que pertencia a uma alemã “perdida” na ilha há cerca de 15 anos. Cerveja com vista sobre a baía ao fim da tarde, não podia ser melhor.

Lá mais para o fim da tarde voltámos ao barco e fomos recebidos com umas trombas de todo o tamanho pelo Nuno e pela Teresa que, ao que diziam, devíamos ter regressado ao fim de meia hora, para eles irem mergulhar à ilha de Palm Island. Ninguém sabia de nada a não ser eles. Houve uma ligeira discussão e troca de galhardetes “et bof”, não houve mais nada para dizer.

À noite fomos todos, menos o Nuno e a Teresa, o que começou a ser um standard nesta viagem, jantar fora a um restaurante no porto, daqueles que se pode ir por mar. O restaurante, que se chama “Lambi’s”, servia um jantar tipo buffet e era excelente. Preço fixo 45 $EC + 10% de serviço, bebidas à parte. O Nuno e a Teresa vieram ter connosco no fim do jantar e quando acabou o espectáculo da banda de steeldrums que abrilhantou o jantar, fomos à procura de um bar de praia que tínhamos visto do barco.
Ficámos por lá a ouvir música ora de reggae (a nosso pedido) ora americanadas execráveis e lilis. E assim acabámos a noite, junto à água, numa esplanada com relva no chão e uma Lua cheia que iluminava tudo como se de um holofote se tratasse. Voltámos ao barco e adormeci instantaneamente assim que me deitei.

DIA 07 - TOBAGO CAYS Posted by Hello

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 07

Dia 07 - 04/04. Mayreau / Tobago Cays

Domingo, dia 4 de Abril.

Levantámo-nos bem cedo, com excepção da Sílvia que anda um cu de sono e passa montes de tempo a dormir. Cereais e café nesta baía paradisíaca, com o dia a nascer e a luz do Sol a começar a definir os contornos das palmeiras na praia deserta e ainda sonolenta.

Durante o pequeno-almoço houve troca de ideias sobre como iríamos fazer o resto da viagem. O Nuno, por um lado queria fazer um programa mais definido e começar a planear tudo. O Luís, o Paulo e eu, por outro lado, queríamos ter um esboço de programa, mas deixar espaço para o caos e para o improviso como me é querido. A Sílvia não achava nada porque continuava a dormir. Argumentou-se bastante e ficou tudo na mesma, ou seja, iríamos para onde (e quando) o barco quisesse ir. Por agora, vamos tentar ir até à ilha de Grenada, mas se não der para ir, não vamos!

Tudo arrumado saímos à vela para Tobago Cays. Antes de sair, encomendámos a um pescador e condutor de táxi aquático, um jantar de peixe e lagosta na praia para 4 pessoas, eu, o Luís mais o Paulo e a Sílvia. Com a Lua cheia de hoje à noite promete ser uma ocasião para não esquecer. Com sorte ainda está incluída uma joint para sobremesa.

E com a perspectiva de uma noite de sonho nos recifes de Tobago Cays, um dos locais mais emblemáticos das Grenadines, saímos à vela numa bolina cerrada bem forte. A navegação começa a ficar mais perigosa por causa dos recifes, mas ao fim de várias viragens de bordo, entrámos na perfeição no santuário de Tobago Cays. De assinalar que as marcações e bóias que constavam na carta eram dificílimas de se ver, bóias pretas contra fundo escuro de mato e árvores. Quase impossível de encontrar. O local é de sonho, polvilhado de pequenas ilhas desertas com praias e palmeiras à nossa espera. Algumas até têm mesas de madeira abrigadas do sol para quem quiser lá fazer um picnic.

Fundeámos junto à pequena ilha de Jamesby em cerca de 4 metros de água, ou melhor, com cerca de 1,80 a 2,00 metros abaixo da quilha.
O barco visto de baixo parece uma baleia pachorrenta a oscilar muito suavemente na água.
Ficámos a descansar na hora de Sol mais forte e, para o fim da tarde, fomos no dinghy mergulhar para o “horseshoe reef”. A corrente estava fortíssima e a altura de água era muito pouca, mas vimos vários cardumes de peixes e recifes com corais gigantescos. A temperatura da água estava óptima e o vento começou a soprar um pouco mais frio. Ainda tentámos mergulhar noutro sítio, mas a corrente ainda era mais forte e o dinghy estava sempre a “garrar”, pelo que voltámos para o barco onde preparámos tudo para a nossa saída nocturna.

Iríamos os 4 no dinghy até à praia da ilhota de BARADEL e levaríamos os pratos, talheres, copos, bebidas e travessas para o que nos iria ser servido, arroz de legumes, legumes estufados dentro de papel de alumínio e, na brasa como combinado, lagosta grelhada.

Fizemos a travessia já de noite mas com o luar de lua cheia a iluminar o mar e o horizonte. Quando chegámos à ilha não achámos logo o sítio para sair na pequena praia, mas à segunda tentativa entrámos. Na praia já estava um grupo numas mesas de madeira e nós fomos para uma pequena elevação rodeada de arbustos e árvores onde estava mais uma mesa com banco fixo corrido a toda a volta. Pusemos a mesa e passado pouco tempo veio a paparoca que estava excelente. Para sobremesa fumámos uma joint de erva que pôs todos em estado de graça e contemplação. Segundo o nosso anfitrião, naquela ilha a erva era legal, ou melhor, não era proibida porque como a ilha era deserta também não tinha ninguém para proibir fosse o que fosse. Como convidados aceitámos o argumento, neste caso, a joint.
De volta ao barco após uma viagem sem incidentes, não batendo em nada e encontrando à primeira o Dolphin Dance, o estado geral era de bem-aventurança e plenitude. Arrumámos as sobras no frigorífico e um a um fomos caindo redondos na cama.
De ressaltar o pormenor curioso de na travessia de volta ter descalçado os sapatos e levando-os na mão para não os molhar. Saltei para o barco e deixei-os no convés. Antes de me deitar fui-os buscar, e quando cheguei à cabine reparei que tinha os sapatos todos molhados e com bastante água dentro. Não podia ser, tinha a certeza que os não tinha molhado. Entretanto a Sílvia passou por mim e disse qualquer coisa, mas a percepção que tive, era que a imagem da Sílvia passou primeiro e quando ela já lá não estava é que chegou o som do que ela dissera. Não há duvida que a velocidade da luz é maior que a do som!
Descansado por as leis da física estarem a funcionar e o universo ainda estar coeso, fui-me deitar, embora um pouco desconfiado com os meus sapatos.

setembro 02, 2004


Caraíbas Dia 06 Posted by Hello

Caraíbas Dia 05 Posted by Hello

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA O6

Dia 06 - 03/04. Charleston bay / Mayreau

Sábado, dia 3 de Abril.

Durante toda a noite soprou uma ventania que entrava pelo albói e saía pelo poço, fazendo uma corrente de ar frio que me acordou várias vezes. De manhã, assim que o Sol nasceu começou a chover, por pouco tempo, como é costume.
Banho tomado à maneira, com champô e tudo e fiquei pronto para o pequeno-almoço enquanto esperamos que chegue a assistência para arranjar o guincho. Quando acabarem o arranjo é que decidimos se vamos para Tobago Cays ou ficamos.
Daqui para a frente a navegação já tem de ser feita com muito rigor porque os recifes são muitos, as passagens estreitas e os fundos baixos, uma das razões porque existem tantos Catamarans por estas bandas.
Ainda não foi desta que temos guincho, afinal a avaria é eléctrica, não tem que ver com o motor, e é necessário saber onde é que o cabo não deixa passar a corrente. Assim sendo, foi tomada a decisão de irmos para as Tobago Cays, mas primeiro, iríamos ficar em Mayreau e o mecânico iria lá ter connosco.
Saímos à vela, com vento que ia aumentando à medida que deixávamos a baía para trás. Assim que passámos Glossy Hill, tomámos o rumo 230 para a ilha de Mayreau. Velejámos a um largo cerca de meia distância, que era aproximadamente 5 milhas, e o resto do percurso numa bolina folgada com alguma vaga lateral na parte final.
À chegada a Salt Whistle Bay veio ter connosco um táxi aquático a avisar que o nosso mecânico já lá estava e se queríamos uma bóia para fundear. Assim fizemos, encomendando ainda 3 garoupas pequenas já arranjadas e temperadas para grelhar à noite juntamente com o peixe que tínhamos comprado de manhã. Íamos experimentar o grelhador que fica preso à amurada da popa.A baía é lindíssima e já prenuncia o que é Tobago Cays. Água azul-turquesa, recifes, praias com palmeiras e pouca ondulação.
Depois de almoçarmos a bordo, tomámos banho e fizemos um pouco de snorkelling enquanto o mecânico chegava à conclusão que precisava de um cabo maior do que o que tinha para o arranjo final. Era tudo o que era preciso para pôr o guincho do ferro a funcionar e acabar a seca do Paulo e do Nuno, sempre que fundeamos ou saímos.
Em terra fizemos uma pequena exploração e decidimos ir até à vila principal da ilha. Como a ilha não era muito grande decidimos ir a pé. Começámos logo por subir um monte numa estrada de cimento com uma inclinação alucinante. Novamente daquelas que custam bastante a subir e ainda mais a descer. No topo do monte tínhamos uma vista quase panorâmica da ilha e viam-se as Tobago Cays ao longe. A igreja é very british e curiosa, enquanto o resto das casas na encosta são simples, e com as cores do costume.
A meia encosta fomos beber uma cerveja ao Dennis’ Hideaway, um bar feito por um skipper local, e voltámos com o Sol a pôr-se e a noite a começar. Aqui levantamo-nos por volta das 6h30 já com o Sol a brilhar e por volta das 18h30 já é noite, embora a temperatura desça um pouco, ainda continua quente.
Preparámos o grelhador e tudo ficou pronto para a grelhação. Acender o carvão sem madeira seca para atear é o cabo dos trabalhos, tínhamos bastante na praia mas ninguém se lembrou. Demorou um pouco mais do que é costume mas consegui fazer as brasas. O mais estranho de tudo era estar empoleirado sobre o grelhador por cima da água. O mais agradável era não apanhar com o fumo devido ao facto do barco estar aproado ao vento e como o grelhador estava montado à popa, o fumo ia direitinho para fora do barco sem nos incomodar. Fizemos uma refeição de peixe grelhado de se lhe tirar o chapéu. Deitámos as espinhas para os peixinhos e o Luís distraído também atirou para a água o prato juntamente com as espinhas. De seguida foi ele atrás do prato para não o perder.
Começámos a lavar, ou melhor, a pré-lavar a louça no balde com água do mar seguido de uma limpeza rápida com água doce. O intuito é poupar água dos depósitos, água que se está a gastar a um ritmo alucinante.
Eu e a Sílvia ficámos no barco a arrumar o resto da loiça enquanto o resto do pessoal foi novamente à procura de uma local party. Quando me ia deitar o Nuno e a Teresa voltaram e disseram que a festa era mesmo local, numa garagem só com pessoal de cor. O Luís e o Paulo como seria de esperar ficaram por lá. Ainda pensei ir ter com eles mas o cansaço era muito e rapidamente adormeci embalado pela ondulação suave que entrava na baía.
De noite acordei com umas picadas dum mosquito, que depois se foi embora satisfeito, ou então foi morder outro, felizmente para mim.

setembro 01, 2004

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS DIA 05

Dia 05 - 02/04. Admiralty bay (Bequia) / Charleston bay (Canouan)

Sexta-feira, dia 2 de Abril.

Passada a tempestade veio a bonança e acordámos todos bem dispostos. Ainda fomos a terra comprar um cabo de segurança para o dinghy, mas antes disso chegou o padeiro de barco e comprámos banana bread e cacetes ainda quentes para o pequeno-almoço. Pelo VHF chamámos o barco da água para encher os depósitos do barco que estavam vazios. Aproveitámos ainda para comprar gelo para o congelador que já não tinha nenhum.

Eram 10h08 quando largámos em direcção à ilha de CANOUAN com a intenção de fundear em CHARLESTOWN BAY. Era um percurso de 16 milhas, não passando pela ilha de MOUSTIQUE que ficaria para a volta. Navegámos a um largo 2/3 do caminho, e na parte final, coincidindo com um pequeno aumento da vaga que vinha de través, navegámos numa bolina folgada que nos fez chegar quase aos 6 nós, aproveitando toda a pontinha de vento e estando sempre a corrigir o velame. Fui para o leme na parte final e fizemos a aproximação ao extremo norte de Canouan com bastante vento, o qual caiu assim que dobrámos a ponta e apontámos a sul para Charlestown Bay. Aí fizemos uma navegação de paciência a aproveitar e procurar as rajadas que vinham aos intervalos. Fazendo várias viragens de bordo na altura certa entrámos no meio das bóias e fundeámos sem auxílio de motor.

Grande skipper, e grande tripulação! Depois de fundeados tivemos de levantar o ferro novamente (à mão por enquanto) porque estávamos (sem o saber) na linha de aproximação dos ferries. Correcção feita, foi tempo de cerveja bem merecida, do mergulho refrescante e da sandocha para repor energias.

Em terra, experimentámos uma piña colada no bar do Hotel Tamarindo e de seguida fomos explorar a ilha. Como era bastante estreita resolvemos ir até ao outro lado ver uma baía onde se faz snorkelling. Para lá chegar subimos uma rampa mortífera, este pessoal faz as estradas pelo caminho mais curto e por vezes surgem rampas com inclinações que mesmo a pé custam a subir. Quando chegámos a um dos extremos da ilha, o Sol estava a pôr-se e o céu tinha as nuvens de todas as cores. Na bruma, ao fundo, como acontece nos filmes de piratas, as ilhas de TOBAGO CAYS fundiam-se num cinzento azulado com o céu e com o mar que escurecia a uma velocidade enorme.

Quando chegámos de novo à praia para ir buscar o dinghy, já era noite cerrada e vimo-nos aflitos para entrar nele devido à ondulação e à corrente. A meio da tarde já se tinha solto do cais, mas como a corrente leva tudo para a praia, quando o Nuno, a Teresa e o Paulo chegaram, o dinghy estava alegremente solto ao pé da margem.
Quando chegámos ao barco já cheirava ao jantar preparado pelo Nuno. Esparguete com salsichas. As nuvens armazenavam chuva e por isso fechámos um pouco os albóis embora a temperatura estivesse quente.
Acabado o jantar ainda dei dois dedos de conversa no convés, e o sono começou a vir a galope.
Foi para isto que nós nascemos! Como dizia o meu amigo Pedro Santos!

Bequia Posted by Hello

Porto Rico e St.Vicent Posted by Hello