setembro 08, 2004

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 09

Dia 09 - 06/04. Union Island / Carriacou

Terça-feira, dia 6 de Abril.

De manhã fomos a motor até Palm Island e ficámos por lá a mergulhar. A água era claríssima e havia bastantes rochas e recifes cheios de cardumes e espécies diferentes de peixes. Fizemos snorkelling cerca de hora e meia e de seguida levantámos pano e dirigimo-nos para a ilha de Carriacou, que pertence a Grenada e já é outro país. Tínhamos de chegar entre as 15h00 e as 16h00, para fazer a entrada na Alfândega e na Imigração. Burocracia, carimbos, rubricas, funcionários, etc.

Fizemos uma navegação à maneira, tirando o ponto de meia em meia hora para sabermos bem onde estávamos, a corrente e a velocidade real que estávamos a fazer. Com a agulha de marcar era fácil, mas marcar o ponto no mapa dentro da cabine fechada, íamos à bolina cerrada, com todo aquele calor sufocante já era mais difícil.

Passámos por Little Saint Vicent e Petite Martinique, ficavam do lado de bombordo e rumámos para a baía de Hillsborough, o sítio mais importante de Carriacou.
Fundeámos por volta das 15h00 e fomos logo para terra tratar da papelada. Demorámos algum tempo nos Customs e quando chegámos à Imigração, para entregar os papéis da tripulação e os passaportes, eram 5 para as 4. Chamámos o funcionário que chegou, arrogante e malcriado, a dizer que o limite para o atendimento eram as 4 horas como estava escrito na porta. Argumentámos que não eram 16h00, ele disse que “só amanhã” e nós não desistimos, argumentámos ainda mais e ele lá nos atendeu com os maus modos comuns a todos (ou quase todos) os funcionários públicos.

Era interessante verificar que a única coisa diferente em todo aquele cenário era apenas a cor da pele do funcionário e o calor tropical e húmido que fazia. De resto podia ser em Oeiras ou Cascais ou Sintra ou Lisboa ou em qualquer sítio onde existissem funcionários públicos daquele tipo. Especulou-se na altura sobre uma doença induzida pelo uso dos carimbos, uma espécie de conspiração organizada pela guilda dos carimbos para dominar o mundo através do funcionalismo burocrático.

Com um suspiro de alívio, o local ainda por cima não tinha ar condicionado, saímos dali com pé ligeiro e fomos dar uma volta pelo local.

A vila, ou cidade, consiste basicamente numa rua principal e numa transversal que foi percorrida num instante. Era estranho sermos os únicos brancos na rua, com a excepção de uma inglesa, devia ser inglesa de certeza, que usava um daqueles chapéus que as inglesas têm a mania de usar e que se encontrava no minimercado a fazer compras. As construções não eram tão precárias como as das Grenadines mas muitas delas estavam em adiantado estado de degradação. Viemos a saber depois que era o resultado da passagem do último furacão.
Arranjámos um bar com bastante bom gosto, junto à praia, para bebermos uns cuba libres e preguiçar um pouco, enquanto o Luís ia para a sua saga da Internet. Ele, mais o portátil, mais os e-mails e mais as redes que não funcionavam. Não era sempre, mas era o mais comum.
A noite caía, e voltámos para o barco com o intuito de fazer o jantar, caril de frango, ou melhor, caril de pernas de frango. A bordo é um luxo e ainda sabe melhor se for comido ao ar livre no convés numa noite de luar.
O serão foi ocupado com a lembrança de sketches de filmes cómicos, desde o Woody Allen aos Monty Python. Para ajudar tínhamos o Rum Mount Gay. Apesar do nome todos bebíamos e ao que conste, além duma ou outra pequena ressaca, não houve efeitos secundários.
Os meus sapatos de vela que já estavam secos e felizes levaram-me até ao camarote, onde já não me lembro muito bem se dormi com eles calçados ou não...pelo menos durante algum espaço de tempo, até irem à vida deles.

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