janeiro 18, 2005


CONVITE Posted by Hello

QUADROS NUMA EXPOSIÇÃO

Nunca percebi porque é que o tema de Mussorgsky, Quadros numa Exposição, sempre exerceu sobre mim um fascínio enorme.

Primeiro foi o álbum dos Emerson Lake & Palmer, Pictures at an Exhibition, que abriu as portas para os clássicos da Deutsche Grammophon com piano e orquestra, e depois para as partituras simples em piano, as peças originais sem os arranjos de Ravel.
Ainda cheguei a tocar no saxophone alguns temas, bastantes difíceis, podem crer! Belíssimos, mas uma carga de trabalhos para os tocar.

Chegou agora, finalmente, a vez de os Quadros que estão em Exposição serem meus. Será o cumprir de uma natureza, por vezes vislumbrada mas nunca assumida. O porquê reside nas minhas aspirações e cobardias. O querer está aqui e agora!

Quadros numa Exposição, os quadros compõem as “Imagens de Poder” e a Exposição é produzida pelo Leonardo, o criativo e motor do Restaurante/Bar LA MONEDA, que assume o seu papel de Ravel ao arranjar e orquestrar os Quadros numa Exposição que espero seja do agrado de todos.

Se por acaso não for...o problema é vosso. Eu, o Júlio arquitecto, gosto muito das telas do Júlio pintor. A sério!!!

Júlio Quirino - História Breve para uma Exposição

Júlio Jaime Borrêlho Quirino

Nasce no ano de 1953 em Lisboa, mais precisamente em Alcântara, no Largo do Calvário em frente ao cinema Promotora.

A família que o ajuda a crescer está ligada às artes gráficas e ao desenho, desde o avô que dominava a arte do desenho em pedra litográfica, ao pai que lhe ensinou os primeiros gestos do desenho a pastel e a tinta-da-china.

Cresceu com o cheiro das tintas das rotativas em Santa Catarina e com a proximidade das Belas Artes onde acabou por fazer o Curso Superior de Arquitectura em 1978.

Os estudos eram partilhados com colaborações profissionais no campo da fotografia de reportagem e de publicidade, como cartoonista no Jornal humorístico “O Coiso” juntamente com Mário Henrique Leiria, Carlos Barradas e tantos outros, ou como ilustrador ocasional e artista gráfico.

Acabado o curso de Arquitectura e o Festival de Jazz de Setúbal, onde concebeu e produziu todo o material gráfico e plástico e que marcaria o abandono temporário da faceta gráfica, começa o percurso profissional como Arquitecto embora sempre ensombrado com o fantasma das artes plásticas.

Amante de Jazz, vem pela mão de Rui Neves e do José Duarte a colaborar novamente como cartoonista na revista Pão Com Manteiga.

Em 1989 e após vários anos de cumplicidade criativa com o arquitecto e músico dos Ephedra, Paulo Viana, constitui a empresa Júlio Quirino & Paulo Viana arquitectos, o atelier ao qual ainda hoje está ligado profissionalmente e que tem no seu historial mais recente obras como o Fórum Almada, Fórum Aveiro, Edifícios Central Park, Espargal e vários conjuntos habitacionais e de Serviços.

Paralelamente com a actividade do atelier, mantém viva a chama inicial e pinta retratos e histórias dos amigos mais íntimos, por vezes a aguarela, outras a pastel e ainda outras a acrílico, médium que começa a estudar e a desenvolver técnicas várias de trabalhar em tela.

Em 1996 tropeça nos símbolos arquetípicos, seguindo a linha de Carl Jung e põe em prática uma abordagem quase Zen para os sintonizar e pintar.

Hoje, a série de símbolos representados como foram percepcionados encontra-se reunida na colecção “Imagens de Poder” exposta a partir de dia 03 de Fevereiro na Galeria/Restaurante LA MONEDA em Lisboa.

IMAGENS DE PODER

Em 1996 surge a apetência de descobrir e pintar imagens (símbolos) dos arquétipos, que fizessem parte do nosso imaginário (inconsciente) colectivo, como advogava Jung.

Surge assim o arquétipo tornado imagem, em certos casos imagens impregnadas de significado intrínseco, e tornadas poderosas pela continuada devoção e adoração ao longo de tempos remotos.

Estas imagens tradicionais estão vivas, operacionais e perpetuamente eficazes, sempre que a nossa atenção e intuição as despertem do sono letárgico em que se encontram no nosso inconsciente.

“....esquecer o que está e recordar a novidade que aí vem”, dizia Almada a propósito da memória criativa e do uso a dar a essa mesma memória.

As imagens são grafismos estéreis se estiverem deslocadas do contexto em que foram criadas e onde foram crescendo em importância e significado até se tornarem símbolos tradicionais que representam simultaneamente a realidade natural e sobrenatural, e servem como catalizadores dessas realidades quando são estimulados pela nossa atenção ou devoção.

A procura do cenário onde o símbolo se movimentava ou foi criado, como se de uma sintonia se tratasse, conduziu ao desenvolvimento de uma abordagem Zen ao acto de pintar.

Tem que se “estar lá” para sentir, tem que se “estar lá” para se conseguir recordar a novidade que queremos pintar. “Estar lá” é sintonizar o momento efémero em que o símbolo foi criado e tentar transmitir essa emoção para a tela, possibilitando a manifestação do símbolo enquanto arquétipo de uma realidade não visível mas intuída.

Ao usarmos o inconsciente como canal privilegiado de uma leitura dos nossos mitos mais profundos, abrimos a porta à intuição e ao sonho lúcido como forma de concepção artística particular, tornando cada quadro numa experiência fascinante de descoberta dum tempo que já foi importante para o homem e que volta a ser animado como imagem de poder que é.

Imagem de poder porque não ficamos indiferentes ao vê-la. Gosta-se ou não se gosta! Sentimo-nos bem ou sentimo-nos mal! Ao reagirmos sentimos o seu poder pessoal, já não nos pertencem, já têm vida própria e são aquilo que sempre foram, uma forma inteligível de intuir o desconhecido, um meio para abarcarmos o intangível, nem que seja por uma breve e fugaz fracção do tempo.

O esquecimento de nós próprios no acto de pintar é a chave para a regressão ao tempo e ao lugar onde o símbolo se manifestou e se tornou propriedade de todos nós. A exaltação, o medo, a agressividade, a violência e tantas outras manifestações da nossa psique estão presentes conforme os cenários que o inconsciente nos apresenta. O gesto de pintar tenta traduzir esse estado de espírito particular. A experiência fica gravada a fogo no mais íntimo de nós mesmos.

No fundo é um olhar longe para aquilo que já fomos, para aquilo que ainda somos e talvez para aquilo que algum dia será.

O percurso de apresentação das pinturas baseia-se numa linha que começa no homem antigo imerso no caos total (“O Pássaro e a Serpente” é o símbolo mais antigo), tende para a auto organização em sistemas abertos desenvolvidos de baixo para cima, a partir do feedback entre elementos individuais em interacção (“ O Dragão” como poder criativo da natureza), e de novo emerge para a diversidade e para o caos regenerador e libertador (“Caos, I Ching e o Código Genético” como manifestações da mesma realidade, Hórus e o Caos e Coatl- as serpentes entrelaçadas).

No entanto as imagens agora apresentadas não foram objecto de uma escolha premeditada, nem obedeceram a qualquer plano prévio de apresentação, tendo sido elaboradas aleatoriamente e sem qualquer ordem predefinida, seguindo apenas a intuição criativa.

Uma vez mais o Caos tende para a auto organização...