setembro 06, 2004

DIÁRIO DE BORDO DO CRUZEIRO ÀS CARAÍBAS - DIA 07

Dia 07 - 04/04. Mayreau / Tobago Cays

Domingo, dia 4 de Abril.

Levantámo-nos bem cedo, com excepção da Sílvia que anda um cu de sono e passa montes de tempo a dormir. Cereais e café nesta baía paradisíaca, com o dia a nascer e a luz do Sol a começar a definir os contornos das palmeiras na praia deserta e ainda sonolenta.

Durante o pequeno-almoço houve troca de ideias sobre como iríamos fazer o resto da viagem. O Nuno, por um lado queria fazer um programa mais definido e começar a planear tudo. O Luís, o Paulo e eu, por outro lado, queríamos ter um esboço de programa, mas deixar espaço para o caos e para o improviso como me é querido. A Sílvia não achava nada porque continuava a dormir. Argumentou-se bastante e ficou tudo na mesma, ou seja, iríamos para onde (e quando) o barco quisesse ir. Por agora, vamos tentar ir até à ilha de Grenada, mas se não der para ir, não vamos!

Tudo arrumado saímos à vela para Tobago Cays. Antes de sair, encomendámos a um pescador e condutor de táxi aquático, um jantar de peixe e lagosta na praia para 4 pessoas, eu, o Luís mais o Paulo e a Sílvia. Com a Lua cheia de hoje à noite promete ser uma ocasião para não esquecer. Com sorte ainda está incluída uma joint para sobremesa.

E com a perspectiva de uma noite de sonho nos recifes de Tobago Cays, um dos locais mais emblemáticos das Grenadines, saímos à vela numa bolina cerrada bem forte. A navegação começa a ficar mais perigosa por causa dos recifes, mas ao fim de várias viragens de bordo, entrámos na perfeição no santuário de Tobago Cays. De assinalar que as marcações e bóias que constavam na carta eram dificílimas de se ver, bóias pretas contra fundo escuro de mato e árvores. Quase impossível de encontrar. O local é de sonho, polvilhado de pequenas ilhas desertas com praias e palmeiras à nossa espera. Algumas até têm mesas de madeira abrigadas do sol para quem quiser lá fazer um picnic.

Fundeámos junto à pequena ilha de Jamesby em cerca de 4 metros de água, ou melhor, com cerca de 1,80 a 2,00 metros abaixo da quilha.
O barco visto de baixo parece uma baleia pachorrenta a oscilar muito suavemente na água.
Ficámos a descansar na hora de Sol mais forte e, para o fim da tarde, fomos no dinghy mergulhar para o “horseshoe reef”. A corrente estava fortíssima e a altura de água era muito pouca, mas vimos vários cardumes de peixes e recifes com corais gigantescos. A temperatura da água estava óptima e o vento começou a soprar um pouco mais frio. Ainda tentámos mergulhar noutro sítio, mas a corrente ainda era mais forte e o dinghy estava sempre a “garrar”, pelo que voltámos para o barco onde preparámos tudo para a nossa saída nocturna.

Iríamos os 4 no dinghy até à praia da ilhota de BARADEL e levaríamos os pratos, talheres, copos, bebidas e travessas para o que nos iria ser servido, arroz de legumes, legumes estufados dentro de papel de alumínio e, na brasa como combinado, lagosta grelhada.

Fizemos a travessia já de noite mas com o luar de lua cheia a iluminar o mar e o horizonte. Quando chegámos à ilha não achámos logo o sítio para sair na pequena praia, mas à segunda tentativa entrámos. Na praia já estava um grupo numas mesas de madeira e nós fomos para uma pequena elevação rodeada de arbustos e árvores onde estava mais uma mesa com banco fixo corrido a toda a volta. Pusemos a mesa e passado pouco tempo veio a paparoca que estava excelente. Para sobremesa fumámos uma joint de erva que pôs todos em estado de graça e contemplação. Segundo o nosso anfitrião, naquela ilha a erva era legal, ou melhor, não era proibida porque como a ilha era deserta também não tinha ninguém para proibir fosse o que fosse. Como convidados aceitámos o argumento, neste caso, a joint.
De volta ao barco após uma viagem sem incidentes, não batendo em nada e encontrando à primeira o Dolphin Dance, o estado geral era de bem-aventurança e plenitude. Arrumámos as sobras no frigorífico e um a um fomos caindo redondos na cama.
De ressaltar o pormenor curioso de na travessia de volta ter descalçado os sapatos e levando-os na mão para não os molhar. Saltei para o barco e deixei-os no convés. Antes de me deitar fui-os buscar, e quando cheguei à cabine reparei que tinha os sapatos todos molhados e com bastante água dentro. Não podia ser, tinha a certeza que os não tinha molhado. Entretanto a Sílvia passou por mim e disse qualquer coisa, mas a percepção que tive, era que a imagem da Sílvia passou primeiro e quando ela já lá não estava é que chegou o som do que ela dissera. Não há duvida que a velocidade da luz é maior que a do som!
Descansado por as leis da física estarem a funcionar e o universo ainda estar coeso, fui-me deitar, embora um pouco desconfiado com os meus sapatos.

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