julho 19, 2005

O OUTRO


The face in the mirror won’t stop,
the girl in the window won’t drop.
A feast of friends alive she cried,
waiting for me outside.
Before I sink into the big sleep
I want to hear, I want to hear
the scream of the butterfly.

(Jim Morrison in “When The Music’s Over”)

A face que me olha do outro lado do espelho, não a reconheço.

Pensando bem, nunca a reconheci, apenas habituei-me com o passar do tempo a identificá-la como sendo eu. Por vezes esqueço-me dela no acordar ensonado e fico parado em frente ao espelho à espera que o mundo, neste caso o meu mundo se componha, como um puzzle cujas peças são bocados de realidades distintas e nem sempre vividas.

Sempre me habituei a conviver com o outro, a partilhar o mesmo espaço e o mesmo sono. O sonho nunca foi partilhado, era vivido separadamente, mas o mais curioso era que cada um sonhava o outro. Alternadamente, até ao dia em que o outro, o da face que me olha do outro lado do espelho, não acordou do sonho em que me sonhava.

Foi o dia em que deixei de ter sonhos, em que deixei de o sonhar. Devia ter deixado de existir, o outro, mas não, sei que está por aí. Além de o ver do outro lado do espelho, pressinto-o na sombra do meio-dia, ou no vulto silencioso que me fecha os olhos de sono à noite.

Às vezes gostava que ele, o outro, acordasse do sonho de sonhar-me, e vivesse por uns tempos o meu sonho a sonhá-lo. Sonhar que era o outro, o que me olha do outro lado do espelho. Será que me reconheceria então, a ver-me do lado de lá?, ou também acharia estranha a minha própria face. Provavelmente assim seria. Ao ser o outro, a sonhar ser o outro, tornar-me-ia o outro de mim mesmo e não me reconheceria também.

Às vezes procuro-o nos silêncios, procuro ouvi-lo a respirar e quase que consigo. Ou então tocar-lhe no escuro, roçar ao de leve o seu corpo e ficar arrepiado com o quase contacto. Sei que um dia o vou encontrar, frente a frente. Se não enlouquecer, será o dia em que escutarei pela primeira e última vez, o grito da borboleta.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olho para a minha imagem reflectida no espelho, e sinto que nao sou eu quem olha para mim. Essa pessoa que me fita com
atençao procurando cada recanto e imperfeiçao, que tenta descobrir a minha verdade mais bem escondida dentro de mim.
Tenho medo...essa pessoa que me fita parece conseguir ler cada recanto do meu pensamento... e eu sei que nao sou perfeita
e que talvez quem me conheça nao goste do que vê! Tento me esconder atrás das minhas mãos, mas mostro uma pose de quem nada
teme e de quem tem coragem de tudo enfrentar.
Tenho medo de ser descoberta, e tenho medo que descubram a minha fragilidade...
Assim, ergo a cabeça e meto-me numa pose triunfal! Sou exactamente aquela que eu quero que os outros me vejam, e nao me
apercebo que me escondo apenas de mim. Alguem ja descobriu quem eu sou e o que sinto e não teve medo de gostar do que viu...

Esboço um sorriso pois consigo me manter firme na minha posiçao, e descubro que quem me fita também sorri para mim. Entro
no jogo e tento também conhecer essa pessoa apenas por um olhar, e por breves momentos sinto que somos uma só! Não falamos
nem pronunciamos o mais pequeno som, mas conseguimos comunicar pela expressão dos olhos e do sorriso. Sinto forças para
continuar o meu caminho, principalmente porque agora sei que alguem me conhece e me aceita... Porque agora sei que alguem
me descobriu e gostou do que viu. Assim como eu me conheço, me aceito e gosto de mim tal e qual como sou!


fairy
22 de janeiro de 2005

as vezes axo piada com a identificação k se encontra na individualidade (na imaginação ou na cabeça) de cada um =)

é a 1ª vez k vim a este blog mas vou continuar a ler ... de vez em kd prometo fazer uma vizita